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Alguém tem uma tradução de continuidad de los parques de julio cortzar?

## Continuidade dos Parques

Eu

Era crepúsculo quando entrei no parque. A folhagem de outono havia quase desaparecido e havia apenas algumas folhas nas árvores. Os caminhos, cheios de folhas mortas, curvavam-se suavemente por entre as árvores, e o ar estava úmido com o cheiro de folhagem podre e de frio. Caminhei sem nenhum objetivo definido, simplesmente girando conforme as instruções do acaso. Às vezes, seguindo o caminho, encontrava-me numa pequena clareira; outras vezes, as árvores aproximavam-se cada vez mais de mim até formarem uma espécie de túnel do qual era um esforço escapar. O silêncio só era interrompido de vez em quando pelo barulho de um trem passando pelo parque, mas a uma distância tal que não passava de um murmúrio baixo.

Eu ainda estava andando por uma trilha quando vi um banco ao longe. Ao me aproximar, vi que alguém já estava sentado ali, absorto em um livro. Hesitei por um momento antes de me juntar a ele, mas depois sentei-me no banco um pouco afastado e acendi um cigarro.

Ele estava sentado imóvel, mas não poderia estar a mais do que alguns metros de mim. Ele tinha um ar estranho, algo ausente e indiferente, mas talvez isso fosse apenas o efeito de sua concentração no livro. Observava com o canto do olho o seu corpo imóvel e às vezes até olhava diretamente para ele, para a forma sombria e quase distraída com que lia, virando as páginas com um gesto mecânico, sem levantar os olhos.

Estava escurecendo e as poucas pessoas que ainda estavam no parque começavam a se dirigir às saídas mais próximas. O silêncio era total e o único som era o farfalhar das folhas que mexíamos com os pés.

Eu estava me sentindo desconfortável. De repente, sem nenhuma ligação com o que havia acontecido antes, como se continuasse uma conversa interrompida há algum tempo, o homem sentado no banco ao meu lado declarou:

"Eu estava vindo de uma visita ao hospital."

Não falei nada, porque ele falou de maneira casual, sem tirar os olhos do livro.

"E fiquei tão envolvido com o livro", acrescentou, "que esqueci de lhe contar que há pouco estive na casa de Madame Henriette."

Mesmo assim ele continuou lendo e fiquei ainda mais surpreso do que antes porque não poderia haver dúvida:o homem estava falando comigo. Não havia mais ninguém no parque e, além disso, ele me disse “Eu estava na casa de Madame Henriette” de uma forma tão direta que era impossível para ele estar conversando com outra pessoa.

Não resisti e perguntei-lhe:"Quem é Madame Henriette?"

Ele olhou para mim com aparente surpresa e colocou o livro sobre os joelhos, marcando a página com o dedo. "Madame Henriette", disse ele lentamente, "é a dona da casa onde eu estava."

E depois de uma pausa, acrescentou:“Há muitos anos que frequento lá regularmente”.

Então, como se de repente tivesse se lembrado de algo que acabara de lembrar, perguntou:“A propósito, não te vi lá uma vez?”

Pensei nisso por um momento e depois respondi:“Não, acho que não”.

"Mas você estava conversando com Irineo sobre uma história que aconteceu com você em Lomas. Não se lembra?" ele disse, olhando para mim muito atentamente.

"Agora que você mencionou isso, sim", eu disse, embora agora que pensei nisso, não tivesse certeza.

“É curioso, muito curioso”, disse para si mesmo. "Há dias tenho a sensação de já ter visto você em algum lugar antes."

E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele aproveitou a oportunidade para se apresentar. "Meu nome é Mário. Mário Oliver."

“Martín”, eu disse, dando automaticamente meu sobrenome, que, como sou meio vagabundo, não lhe dizia muita coisa.

Apertamos as mãos e ele imediatamente me ofereceu um cigarro, que aceitei.

"E como já dissemos quem somos", disse ele, "talvez você possa me ajudar com algo que me preocupa há algum tempo."

Esperei e ele começou a explicar. Ele havia se encontrado com Irineo há pouco tempo, e durante a conversa eles me mencionaram, e naquele momento, disse ele, veio à sua mente o título de um livro, O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, e sem entender completamente por que ele começou a ler o livro como se fosse uma pista para algo cuja importância ele ainda não conseguia discernir. Agora ele não tinha certeza se havia mencionado o título para mim ou se foi minha associação com o nome de Irineo que o trouxe à mente, mas gostaria que eu lhe contasse o que sabia sobre ele.

"Receio não poder ajudá-lo", confessei, "porque na verdade não sei nada sobre isso."

Ele pareceu desapontado e novamente olhou atentamente para mim.

“Isso é estranho”, disse ele. “Eu tinha quase certeza de que você me mencionou o título em uma ocasião. De qualquer forma, ainda me lembro da impressão que isso me causou e pensei que, quando falasse com Irineo, talvez ele pudesse me dizer algo. sobre o livro, mas não, ele me olhou surpreso, e quando perguntei sobre o livro, ele também não sabia nada sobre ele. E o mais estranho é que tenho certeza absoluta de que nunca ouvi falar. o título antes. Então, como isso entrou na minha cabeça?"

Encolhi os ombros. “Deve ter sido uma vaga lembrança de algo que você esqueceu com o tempo, ou talvez um título que você leu em algum lugar sem perceber.”

Ele permaneceu pensativo e me perguntei o que ele poderia estar pensando. Então, de repente, como se tivesse acabado de se lembrar de algo, começou a rir. "Mas é claro", ele disse, "como sou estúpido! Só agora estou percebendo que eu mesmo lhe dei um exemplar deste O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam. Você não se lembra? Deixei-o junto com alguns livros que eu emprestei a você há muito tempo e, pelo que me lembro, você nem sequer olhou para eles."

Eu me senti confuso. “Receio que você esteja enganado”, eu disse. "Você nunca me emprestou nenhum livro."

"Que estranho!" ele disse. — Lembro-me muito bem de como os dei a você uma tarde, quando a conheci na casa de Madame Henriette.

“Sinto muito, mas você deve estar enganado”, repeti, começando a me sentir um pouco irritado, principalmente porque nunca tinha posto os pés naquela casa de Madame Henriette de que ele falou.

Mas Mario Oliver insistiu. “Eu não poderia tê-los dado a mais ninguém”, disse ele, “porque não tenho nenhum outro conhecido no parque. E há outra coisa, muito estranha, que me faz pensar que você viu aquele livro. :naquele dia, quando lhe entreguei os livros, deixei o volume que contém a história "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" entreaberto, com uma pequena marca para que você começasse a ler imediatamente. Imaginem minha surpresa quando procurei. coloquei na sua biblioteca há pouco tempo e descobri que a marca ainda estava lá, o que significa que você não leu a história."

Comecei a rir sem querer porque, ao pensar nisso, tudo parecia tão improvável, tão absurdo, que tive certeza de que a qualquer momento meu companheiro no banco iria cair na gargalhada e gritar:"Te peguei!" Mas ele repetia seriamente que sabia que eu tinha lido a história "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" e que iria explicar-lhe o enredo.

No final, parei de rir e sugeri-lhe que talvez ele tivesse se enganado e que tivesse sido outra pessoa quem me dera os livros, mas ele imediatamente objetou que, quando lhe devolvi os livros, ele até havia feito algumas anotações. à margem, e que seria fácil verificarmos isso.

Então, por fim, ele pegou seu caderno, anotou meu endereço e combinamos que eu iria à casa dele no dia seguinte para esclarecermos esse mistério.

II

Quando, na tarde seguinte, liguei para o apartamento de Mario Oliver, foi ele quem abriu a porta. No momento em que me viu, abriu um sorriso e acolheu-me cordialmente, conduzindo-me à sala onde havia muitos livros, tanto franceses como espanhóis. Depois de me oferecer uma cadeira, sentou-se à minha frente, muito sério, e olhou-me com ar pensativo.

“Passei muito tempo pensando no que aconteceu conosco ontem”, disse ele, “e estou cada vez mais convencido de que você não foi totalmente franco comigo”.

Encolhi os ombros. "Você pode estar certo", eu disse, "mas a verdade é que ontem algo estranho aconteceu comigo. Eu não poderia lhe dar a explicação que você me pediu, mas em troca há muitas coisas que você vai tem que me explicar."

“Não se preocupe, chegaremos lá”, disse ele. “Apenas seja paciente e tenho certeza de que todos esses eventos farão sentido no final.”

Então ele se levantou e foi até a estante. Após uma breve busca, ele tirou vários volumes e me entregou. “Aqui estão eles”, disse ele. "Diga-me se algum desses livros parece familiar

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