William Shakespeare frequentemente emprega alusões em O Mercador de Veneza, acrescentando profundidade e complexidade à história. Essas referências baseiam-se em contos, figuras e ideias conhecidas de vários contextos culturais e históricos, contribuindo para a riqueza e ressonância temática da peça. Aqui estão alguns exemplos significativos de alusões na peça:
1. Alusões bíblicas: -
"Daniel será julgado" :A referência de Shylock ao profeta bíblico Daniel alude ao seu papel na interpretação de sonhos e na emissão de julgamentos. Sugere a aspiração de Shylock por um veredicto justo e reflete a dimensão moral da peça.
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"Jesus!" :A exclamação de Antonio, "Jesus!" ao ser surpreendido, invoca o nome de Jesus, ressaltando a exploração da peça de temas religiosos e conflitos morais.
2. Mitologia Clássica: -
Jasão e o Velocino de Ouro :A busca de Bassanio para escolher o caixão correto faz referência ao mito grego da busca de Jasão pelo Velocino de Ouro. Esta alusão acrescenta um elemento aventureiro à cena do caixão e simboliza a busca por riqueza e fortuna.
3. Filosofia Grega: -
"A qualidade da misericórdia não é prejudicada" :O famoso discurso de Portia sobre a misericórdia alude ao conceito estóico de "clementia" ou misericórdia. Essa ideia ressoa com a exploração da peça sobre o equilíbrio entre justiça e misericórdia.
4. História Romana: -
"A libra de carne" :O conflito central gira em torno da exigência de Shylock por "meio quilo de carne". Este conceito deriva da "lex talionis" ou lei de retaliação do antigo direito romano, acrescentando um senso de autenticidade histórica aos dilemas jurídicos da peça.
5. Cultura Popular Elisabetana: -
"Nem tudo que brilha é ouro" :Este ditado, muitas vezes atribuído ao próprio Shakespeare, alerta contra julgamentos superficiais. Ele encontra relevância na exploração das aparências versus a realidade, particularmente nas práticas de empréstimo de dinheiro de Shylock e nas escolhas do caixão.
6. Obras Literárias: -
"O Príncipe de Marrocos" :A referência ao Príncipe de Marrocos alude à peça "O Judeu de Malta" de Christopher Marlowe, que apresentava um agiota judeu chamado Barabas. Esta conexão intertextual enriquece a representação de Shylock e acrescenta profundidade à exploração dos estereótipos judaicos.
Ao incorporar essas alusões, Shakespeare aprimora O Mercador de Veneza com camadas literárias, culturais e históricas. Essas referências expandem o escopo temático da peça, oferecem insights sobre as motivações e conflitos dos personagens e convidam o público a se envolver em discussões morais e filosóficas mais amplas, além do contexto imediato da história.